A cor dos meus dias, tem uma pincelada de cinzento, que eu teimo em espantar com a força do pensamento. Tem um azul de sonho e um preto medonho. Mas amarelo, lindo brilhante, como raios de sol que me aquecem, num instante.
A cor dos meus dias é rubra como uma rosa. Porque explode no meu coração, uma bomba de afeição. E verde, tão fresco como a relva, tão imensamente tenra como uma folha de trevo, que a sorte traz. Por isso também existe lilás.
A cor dos meus dias tem o castanho da terra, que me faz pensar por vezes na guerra por um território, em atrocidades. Como são capazes?! Mas tem também laranja, saborosa e sumarenta, com bocadinhos de magenta.
Tem branco, de pureza, porque nos maravilha e nos faz pensar em beleza. Tem dourado, quando te vejo, tão perto que te dou um beijo. Prateado, quando perco a cabeça, pelo teu corpo molhado.
A cor dos meus dias tem também o sabor das noites. Tem abraços e aspirações. Sonhos e contrariedades. A cor dos meus dias tem verdades.
E tem temperatura, quando a idéia me faz imatura, medrosa, egoísta ou um pouco orgulhosa. Aí nem o perfume da rubra rosa me satisfaz. Perco-me numa mistura de cores que não me salva, e tento acalmar-me num chá de malva.
A cor dos meus dias, pede-me mais. E por vezes eu não consigo ultrapassar os sinais, porque o vermelho me tolhe. Foi assim que me ensinaram. Mas de uma coisa se esqueceram, é que eu posso contornar, tudo o que de negativo teima em me parar. E então tudo volta a ser colorido, divertido, assombroso...delicioso!
Apareces tu. Espectacularmente nu, perfumado. Com esse rosto maravilhoso e os olhos cinzentos, que não espanto, nem com mil ventos.
Apareço eu, desenhada no breu. E depois?
Dá-se uma explosão de cores. Um fogo de artíficio magnífico, onde os ocres, vermelhos, azuis, verdes, lilazes e roxos, nos deixam exaustos de tanto amor.
É isto a que chamo cor!
Por Sindarin
http://cristaisdegelo.blogs.sapo.pt/10772.html
Não resisti a este texto, estou mesmo tocada por ele.Tomei a liberdade com autorização do autor de o copiar para o meu blog.
sexta-feira
quarta-feira
segunda-feira
sonhos …
Aquele mar que um dia foi meu,
moravam sonhos …
Embrulhada numa vida que não escolhi,
perdi a morada do mar que foi meu.
Entrei sem perceber numa tempestade de areia,
num deserto perdido feito de vagas triste e sonhos esquecidos.
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lição de vida
Metade
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também..."
IN-Ferreira Gullar
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libertação
domingo
TRADUZIR-SE
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
IN - Ferreira Gullar
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Pensamento/Reflexão
terça-feira
O Dever Para Nós Próprios
" Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o actor de um papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam. "
IN - Oscar Wilde, in "O Retrato de Dorian Gray"
IN - Oscar Wilde, in "O Retrato de Dorian Gray"
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Pensamento/Reflexão
sexta-feira
quinta-feira
"Sobre o dia de hoje
Da janela, o homem reparou que o mestre sufi Uways descansava na praça em frente à sua casa. “Talvez ele possa me dizer algo importante”, pensou.
Saiu, e fingindo estar distraído, aproximou-se do mestre.
Depois de uma breve hesitação, perguntou a ele: “como o senhor se sente hoje?”
“Como alguém que acordou de manhã e não sabe se estará vivo no final do dia”, respondeu o mestre.
“Mas isto não é nenhuma novidade”, disse o homem. “Afinal, todos os seres humanos se encontram nesta mesma situação”.
“Sim”, disse Uways. “Mas quantas pessoas neste mundo se dão realmente conta disto?” "
blogs e colunas Paulo Coelho
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Pensamentos
quarta-feira
Da estrela
Márcia Piazzi nos lembra a história de um escritor que morava numa bela praia, junto a uma colônia de pescadores. Num dos seus passeios matinais, ele viu um jovem jogando de volta no oceano as estrelas do mar que estavam na areia.
“Por que você faz isto?”, perguntou o escritor.
“Porque a maré está baixa, e elas vão morrer”.
“Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praia por este
“Porque a maré está baixa, e elas vão morrer”.
“Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praia por este
mundo, e centenas de milhares de estrelas do mar espalhadas pela areia. Que diferença você pode fazer?”
O jovem pegou mais uma estrela e atirou no oceano. Depois virou-se para o escritor: “para esta, eu fiz uma grande diferença”, respondeu.
A partir daquele dia, todas as manhãs o escritor passou a ajudar o jovem
segunda-feira
"Porque os outros se calam mas tu não"
"Porque os outros se mascaram mas tu não.Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não."
In - Sophia de Mello Breyner Andresen
In - Sophia de Mello Breyner Andresen
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